TOSCORAMA
  • GUIA DE BLOGS

 

24 outubro 2007

Cada um tem o inferno que merece

O assassinato da estudante Márcia Constantino também é um crime contra o jornalismo em Maringá. Há uma troca de posições, com repórter virando policial e apresentador virando inquisidor quando deveriam, simplesmente, informar. E o público virando panaca que passa a acreditar em suposições sem ter o direito de refletir por si próprio. É como um filme de aventura – “Imprensa em busca do suspeito sagrado que vai ajudar a faturar” – onde as regras profissionais são esquecidas.

“...a abordagem da notícia passa novamente por circunstâncias extra-informativas, extra-opinativas...”, do livro “Espreme que sai sangue”, de Danilo Angrimani. Summus Editorial, 1995.
A necessidade (que passa longe da ética) de chamar a atenção do telespectador, atrair o olhar do leitor ou aumentar o volume do rádio faz com que a mídia vá além da notícia e crie novidades não-oficiais. Contraditoriamente, um preso por tráfico se torna o monstro assassino na manchete num dia e no outro é esquecido, já que divulgar que ele não tem ligação com o crime não vende, não causa impacto no noticiário.

Assim foi com o famoso bebê-diabo inventado pelo Notícias Populares em 1975. Foram 27 dias na capa, sendo 16 como manchete principal (livro “Nada mais que a verdade”, Carrenho Editorial, 2002). A imprensa precisa gerar fatos para manter o público interessado na história, já que “Polícia ainda não prendeu assassino” não é manchete para coisa alguma.

A falta de senso para se colocar no seu devido lugar e cumprir sua real missão faz da imprensa factual um monstro tão ruim quanto o próprio criminoso. Boatos, especulações, mentiras, opiniões agressivas, afetam não só os ligados diretamente à tragédia, quanto aos policiais que trabalham além da rotina para tentar resolver o caso e, principalmente, ao cidadão comum que acredita em tudo que lê, vê e ouve. Mesmo que não seja o que deveria ser escrito, mostrado e falado.
O inferno do jornalismo ganhou uma grande fila na entrada esta semana... e cada um nesta fila defende seu suspeito, grita uma penalidade e torce para que haja outra tragédia na próxima semana.

Marcadores:

 

TOSCORAMA